Sérgio Morais: a perspetiva na primeira pessoa de um fotógrafo de renome em Portugal!
“O tempo passa e é fugaz!” e para não esquecer os bons momentos e as bonitas situações que vivemos e protagonizamos, nada melhor do que a fotografia. A arte que vem paralisar o tempo e proporcionar-nos o sentimento de que as nossas vivências não têm de escoar pelos nossos dedos, como se de areia se tratasse.
Hoje apresento-vos um mestre em congelar estes instantes e as memórias de um dos dias mais especiais das nossas vidas: Sérgio Morais, um fotógrafo do Algarve, com quem tivemos à conversa para saber mais sobre o seu background e o que o move neste percurso, nesta arte e neste mundo tão romântico.
Quando e como surgiu o projeto? Qual a história? Quando começou a fotografar casamentos?
Desde muito cedo, manifestei apetência pela expressão visual e mais tarde, no liceu, optei por seguir a área das artes e o mesmo sucedeu quando entrei para a universidade. Portanto, a expressão artística é algo que me acompanha desde que me conheço. Assim que tive a possibilidade, comprei uma câmara fotográfica e iniciei um processo de descobertas que duram até hoje.
No início como auto-didacta, mas quando as coisas começaram a complicar frequentei workshops, cursos, formações e tudo de onde eu pudesse beber – utilizo a palavra beber pois quando me refiro a todo os processos de aprendizagem que me conduziram aqui, a palavra que me vem à cabeça é sede! Assim, bebi com o Joel Santos, bebi com o Valter Vinagre, bebi com o Alfredo Cunha, Jim McKiniss, Andrzej Dragan e dezenas de outros fotógrafos brilhantes. Comecei timidamente por fotografar comida, espaços de hotelaria e restauração. Como imprimi sempre no meu trabalho o meu cunho, prontamente atraí algumas atenções e nesta altura passaram pela minha lente chefs como o Ljubomir Stanisic, Joe Best e espaços como o Sheraton, Pousada de Lisboa do grupo Pestana e foram publicadas algumas fotografias minhas na revista Time Out e no Jornal Corriere della sera.
Na viragem do século, comecei a fazer trabalhos de fotografia para marcas nacionais e internacionais de moda, embora tenha sido uma fase importante pois ofereceu-me um background grande sobre iluminação, poses, técnicas, etc. No entanto e a verdade é até certo ponto eu considerava estes trabalhos pobres, em termos de expressão e senti sempre uma grande inclinação para a reportagem e portraiture. Assim, naquela altura, a par dos meus projetos pessoais, decidi arriscar nas reportagens de casamento e após o 2º ou 3º, ao perceber a quantidade de emoções que aquele dia gerava nas pessoas, decidi que de facto o que eu queria era estar ali, contar aquela história e captar as lágrimas de alegria.
Quais os serviços que oferece aos noivos?
Embora a fotografia seja a atividade principal da minha empresa, temos uma panóplia de serviços: Reportagem fotográfica clássica, editorial, fotojornalística, área, scouting, Cinematografia, Trash the dress, Pre wedding, Elopement, Same day edit, Broadcasting, Galetria digital, Álbuns, Ampliações, Impressões, telas, quadros, etc.
E que material entrega?
Antes de contratualizarmos os nossos serviços, por norma reunimo-nos com os noivos pessoalmente, embora desde a pandemia temos também recorrido às reuniões online, com o intuito de:
- Conhecer melhor o casal e sobretudo, de forma empática, estabelecer conexões que seguramente serão importantes na hora de os fotografar;
- Auxiliar neste difícil processo de escolha do estilo da reportagem;
- Estabelecer o material que pretendem que seja entregue, como referi anteriormente, desde formato electrónico numa galeria digital até trabalho impresso.
Que tipo de reportagem caracteriza o seu trabalho?
A minha maior preocupação é sempre a de que o meu trabalho seja adaptado aos requerimentos dos noivos. Contudo e se me perguntar que tipo de reportagem de casamento eu gosto de fazer, direi que é a reportagem fotojornalística documental, o menos intrusiva possível. Uma história bem contada, através do enquadramento, distância focal, iluminação e composição, na qual possa atribuir algo de artístico e o meu cunho pessoal.
O que mais lhe agrada na reportagem de casamentos? Quais os momentos mais interessantes na sua perspetiva?
Este é um dia onde as emoções fluem livremente, os noivos que num misto de nervosismo e alegria se preparam. O pai que olha a filha, prestes a casar, com uma lágrima à espreita. O soluçar emocionado do noivo enquanto recita os votos. Os abraços apertados à saída da igreja, a avó emocionada, as crianças excitadas numa correria incessante. O brilho nos olhos da solteira que apanhou o bouquet. Um desfilar de momentos e perspetivas interessantes, que variam de casamento para casamento e que tornam impossível eleger um momento ou momentos.
O que o distingue da concorrência?
Acredito no talento de todos os fotógrafos, acredito que eu posso ser o melhor fotógrafo para o “casal A” mas talvez eu não seja o fotógrafo ideal para o “casal B”. Sobretudo acredito no respeito entre os artistas. Em resumo, o que distingue a nossa equipa da concorrência é a abordagem e o estilo, com isto não quero dizer que sejamos melhores ou piores que eles, mas a subjetividade da arte tem destas coisas.
Há alguma história que o tenha emocionado particularmente desde que estão no mercado dos casamentos?
Sim, muitas, mas a mais recente foi em 2022. Fui contactado por um casal muito simpático, Ricardo e Catarina que pretendiam casar, mas entretanto o Ricardo que é um apaixonado pelos desportos motorizados teve um acidente de mota que o deixou paralisado da cintura para baixo de forma permanente. A Catarina, que é uma guerreira não baixou os braços, falou com os fornecedores, fez alguns ajustes e decidiu avançar com o casamento.
O Ricardo passou meses na fisioterapia a ensaiar e a colocar-se em pé com a ajuda de um andarilho. Na altura de dizer os seus votos, levantou-se com cara de esforço para sobressalto da plateia incrédula. O facto dele não ler os votos e sim falar livremente aquilo que lhe ia no coração, apanhou todos desprevenidos.
Palavras sobre os meses de luta incessante com a ajuda da Catarina, a sua fiel companheira, o sofrimento, a depressão, a força, a frustração o agradecimento. Foi de tal forma um discurso sincero e tocante que quando dei por mim, eu chorava, o videógrafo, a animadora, a celebrante, os convidados todos choravam… não lágrimas de tristeza, mas sim lágrimas de pura emoção, lágrimas que refletiam a grande força daquele casal. Isto aconteceu durante o verão, uma altura de muito trabalho e cansaço, mas naquele dia regressei de Lisboa para o Algarve com o coração cheio.
Quais os ingredientes de sucesso para uma boa reportagem de um casamento (vídeo e/ou fotografia)?
A fotografia ou o filme de casamento envolve um operador e os objetos de interesse (noivos, convidados, localização, etc.). Relativamente ao operador, este deve ter equipamentos adequados, amor pelo seu trabalho, dominar as técnicas que se propõe a utilizar, ser profissional e atuar de forma não invasiva de forma a não prejudicar o desenrolar natural das ações, por exemplo quando os noivos entram na igreja é comum ver profissionais colados aos noivos, certamente teremos um vídeo e umas fotografias bonitas de planos apertados, mas certamente que a nível estético quebra a beleza do momento para quem está presente. Relativamente aqueles que ficam à frente das lentes, que não falte o à vontade para exprimirem todas as suas emoções livremente.
Em relação ao serviço de vídeo: tem equipa própria para este serviço ou sugere um leque de profissionais que são seus parceiros?
Temos serviço próprio com profissionais de quem me orgulho muito e com um portfólio muito eclético.
Com quanta antecedência o noivo o deve contactar?
Este é sempre um problema de agenda, se tivermos disponibilidade até nos podem contactar uma semana antes, o que não aconselho. É sempre bom, que nos contactem pelo menos com 4 a 5 meses de antecedência para que todos os processos de entrevista, scouting, etc. se possam desenrolar com a naturalidade que um evento destes nos pede.
Em relação a outros projetos dentro da Fotografia, gostaria de nos mencionar alguns?
Sim, começo pelo último e mais atual, “ Diáspora do povo sem medo”, um projeto relacionado com a comunidade ucraniana em Portugal, um conjunto de Retratos em ambiente Neo-Barroco que foram expostos pela primeira vez no Mar-shopping de Faro, Museu Casa Mora, Galeria João Bailote em Albufeira. Atualmente está no museu do traje e tem calendário para os próximos 12 meses com a Direção Geral do Património Cultural. Co-autoria do livro 5º Império, onde o meu trabalho aparece ao lado de nomes como DDiarte, Jackson Carvalho, Ana Abrão, etc.
Outro projeto de que me orgulho bastante é a co-autoria da trilogia de livros de fotografia, “Tempos de Identidade”, que se encontram à venda nas lojas FNAC. Tenho ainda alguns trabalhos em desenvolvimento como o que resultou das minhas andanças por Kyiv em Fevereiro deste ano, no contexto da invasão. Daqui resultou um trabalho que, em data ainda a anunciar, saltará para as salas de exposições. Outro sobre a comunidade LGBT em Lisboa que ainda está em edição.
Quais os prémios e distinções que já recebeu?
Tive alguns prémios e reconhecimentos, mas sem dúvida o reconhecimento mais importante foram de parte dos noivos com quem construí uma relação e passados tantos anos ainda mantemos contacto .
Quais os trabalhos fotográficos que o marcaram dentro e fora do mercado nupcial?
Dentro do mercado nupcial monitorizo o trabalho de Emin Kuliyev, Luigi Rota, Franck Boutonnet, Jeff Ascough, Hevelyn Gontijo, Francesco Spighi entre dezenas de outros cujos trabalhos com o advento do Instagram ficaram todos muito disponíveis. Fora do mercado nupcial, sou um grande admirador do Andrzej Dragan e de dezenas de portugueses como DDiarte, José d´almeida, José Cavaco, Ricardo Gonçalves, etc…
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