Normal is underrated
Na semana passada fui até Londres visitar o evento Brides The Show, promovido pela Condé Nast, a editora da revista Brides.
A selecção de fornecedores presentes era óptima, já que corresponde, segundo a organização, ao melhor do mercado de casamentos inglês. A oportunidade de ver de perto os magníficos vestidos de noiva Katya Katya Sheurina, Amanda Wakeley, Savin London, Halfpenny e Andrea Hawkes foi claramente o ponto alto da minha visita, mas esta experiência pôs-me a pensar numa série de coisas curiosas.
A primeira delas, é o quanto a abordagem ao assunto casamento é diferente entre eles e nós, e isso é muito interessante, por várias razões… Será por serem anglo-saxónicos e nós, latinos? Será porque não é um passo tão importante na vida do casal como é para nós? Será porque a disponibilidade financeira e o seu gasto têm um peso diferente entre eles e nós?
O facto é que neste evento, tudo era bastante contido e de muita qualidade. Os espaços de cada fornecedor tinham 1/3 do tamanho dos nossos (e não era preciso mais, de facto), a fotografia não era o serviço dominante (nem perto disso) e o esforço não estava no melhor stand nem no maior aparato, mas sim no melhor produto, na melhor qualidade. Como devem imaginar, gostei muito!
Como é que plataformas, que sempre foram verdadeiras instituições de bom gosto, criatividade e qualidade irrepreensível, promovem casamentos em supermercados com bouquets de donuts e pizza de oferta, apenas porque é diferente, e consequentemente, genial?
Este último ano tem sido pródigo em absurdos, e, por oposição, esta normalidade qualificada é um caminho que quero muito explorar e fazer convosco.
Querem exemplos para saber do que falo?
O Style me pretty promove, no seu prime time, um serviço de pizzas (ou pizza registry, um conceito que nem consigo verdadeiramente traduzir), para os noivos.
As Wedding Chicks publicam um casamento que aconteceu na cadeia americana de supermercados Costco (estão a ver os nossos Continentes?).
A revista Sábado escreve um artigo onde sugere que comprar sumos e salgados no supermercado, contratar um fotógrafo amador no Facebook ou escolher uma quinta agrícola (nem sei muito bem o que isto quer dizer) são truques para cortar no orçamento.
O Style me pretty volta à carga com a partilha de um artigo sobre uma noiva que casa com um bouquet feito de donuts (leram bem).
As Wedding Chiks publicam um editorial que gira à volta de canabis (from a beautiful hemp + silk wedding dress to a “bud bar” with a professional “budtender” and “dabarista”), porque é very creative and unique.
As plataformas NIT e Delas.PT escrevem, em simultâneo, artigos absurdos sobre as tendências de casamento para 2017 (será a google trend do mês?).
Lamas num casamento são uma tendência. Cavalos disfarçados de unicórnios também. E abacates, não esquecer das 14 ideias para incorporar abacates na vossa festa de casamento.
Em comum? O absurdo absoluto, a falta de ideias e o disparate como factor diferenciador, porque “normal”, “simples”, são atributos para os fracos e para os pobres.
Como é que chegámos aqui, caríssimos noivos e fornecedores?
Como é que plataformas, que sempre foram verdadeiras instituições de bom gosto, criatividade e qualidade irrepreensível, promovem casamentos em supermercados com bouquets de donuts e pizza de oferta, apenas porque é diferente, e consequentemente, genial? Em que momento é que nós, consumidores, damos ok a estas ideias (e outras, excessivas, desapropriadas, postas em prática e servidas à colherada apenas pelo argumento da diferença, sem consistência, sem propósito, sem conteúdo), e as validamos como óptimas e dignas de prime time ou, pior, apropriadas e perfeitas para a nossa própria festa, para o nosso dia mais bonito?
Para o próximo ano, a minha vontade é que olhemos para o “normal” e para o “simples” como diamantes à espera de polimento. São conceitos e premissas óptimos e valiosos, apenas precisam do ângulo certo para brilhar.
Não vamos por aí. Eu não quero mesmo nada ir para aí.
“When they go low, we go high”, disse a Michelle Obama num incrível discurso, antes das eleições americanas, lembram-se disso? Pois é esse o caminho.
Para o próximo ano, a minha vontade é que olhemos para o “normal” e para o “simples” como diamantes à espera de polimento. São conceitos e premissas óptimos e valiosos, apenas precisam do ângulo certo para brilhar.
A qualidade ganha sempre ao aparato!
Fotografia de Nikole Herriot.
Duas vezes por mês, sempre às quartas-feiras, escrevo sobre assuntos que me fazem pensar, num artigo de opinião a que chamo O fio da meada.
Querem discuti-los comigo? Seria um prazer! Acompanhem-me aqui.
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