Wise words: tudo sobre caligrafia, com Telmo Nunes
Na semana passada, as nossas wise words dedicaram-se aos votos de casamento. E em Janeiro falei-vos de convites de casamento. Dois bons assuntos para articular com esta preciosidade que vos trago hoje: a caligrafia de Telmo Nunes, que eleva esta arte de desenhar a escrita a um nível extraordinário: «Curiosamente, quando decidi entrar para o mundo da caligrafia a minha ideia era fazer convites de casamento. No entanto, o destino acabou por me apontar mais na direcção de eventos de luxo e habitualmente o que faço é escrever nomes ou moradas nos convites, e não desenhar o convite em si.»
Mas se quiserem um convite inteiramente caligrafado, é claro que é possível. Partindo do texto com todos os detalhes informativos, passa-se à escolha do estilo de letra. Tendo em conta que o tamanho mínimo aceitável para as letras minúsculas é de 3mm, as dimensões do convite não deverão ser inferiores a A5. Depois, discutem-se os elementos decorativos, os monogramas, mapas e outros, e com base em todos estes elementos Telmo Nunes cria um esboço para apresentar aos clientes.
São sempre convites com um aspecto clássico, com escrita essencialmente histórica, apesar de se poder fazer uma escrita mais moderna e contemporânea – mas nada que tenha a ver com as formas idiossincráticas da tipografia. As regras e os preceitos da caligrafia são algo que valorizo bastante.
Chegados ao formato final, o prazo ideal para produzir um convite seria uma semana: «Eu gostava de poder dizer que consigo ter prazos alargados para trabalhar com calma e tranquilidade, mas em geral 90% do que faço é com urgência, o que às vezes é extremamente stressante. Existe quase como que um ritual para começar a escrever, é preciso preparar a tinta, preparar a folha, o aparo, pensar como o texto vai ficar na folha, onde é que as linhas vão terminar no papel; temos de pensar qual a dimensão da letra, fazer a grelha onde toda a escrita vai assentar; a escrita em si é lenta, todas as letras têm de bater nas linhas para todas terem a mesma altura.» Já se falarmos em escrever as moradas nos envelopes, 200 moradas deveriam poder demorar três semanas a ser escritas. Não é que Telmo não o tenha já feito, e muito bem feito, em bastante menos tempo. Mas fica toda a gente a ganhar se houver espaço para respirar.
E quanto a valores? Quanto pode custar um trabalho destes e como é feito um orçamento, perguntam vocês? É impeditivo?
Não, de todo. «Após alguns anos a trabalhar unicamente com caligrafia e com uma grande ajuda do meu mentor, que é um dos melhores mestres calígrafos do mundo e me tem ensinado tudo o que existe para saber sobre caligrafia, já sei que a melhor forma de calcular qualquer orçamento para qualquer trabalho é o tempo. Eu sei que demoro X horas para produzir X trabalho é com base nisso que faço os orçamentos.»
Então, para terem uma ideia concreta, um convite caligrafado pode custar qualquer coisa desde 105€, dependendo do grau de complexidade da encomenda (decoração, monograma, cartão de confirmação, etc). Se a impressão ficar também a cargo de Telmo Nunes, esse valor é diluído pela quantidade de impressões e há todo um novo conjunto de factores a determinar o preço final do conjunto, como sendo o tipo de papel, se a impressão é digital ou letterpress, se querem usar um fio ou apenas tinta, entre outros. Contas feitas, na realidade, o valor não difere muito de um convite escrito em tipografia. E há um projecto em curso, em parceria com a Inpressed, para a criação de alguns modelos de convites caligrafados em catálogo, o que reduzirá, claro, os preços.
Depois há todo um mundo de suportes em que poderão utilizar o trabalho de Telmo Nunes: «Não só no caso dos monogramas, mas também com os convites ou qualquer outra coisa que a pessoa tenha em mente, caso queira imprimir ou fazer uma gravação a laser, o cliente recebe um ficheiro preparado e que pode ser aplicado em qualquer lado – aqui o limite é mesmo a imaginação. No caso do monograma que fiz para o meu casamento, gerou as medalhas em prata e o alfinete de lapela que foram gravados a laser. Foi uma ideia que surgiu já em cima da hora pela nossa amiga joalheira Sofia Trejeira, que tratou da produção destas peças. Deram umas prendas de casamento fantásticas que toda a gente adorou e ainda hoje vejo as pessoas a usá-las. O preço para uma prenda destas anda na casa dos 12€ a unidade, já incluindo o design do monograma. No caso das alianças, tanto o nome como a data foram escritas e gravadas a laser no interior, uma opção também interessante para os leitores do Simplesmente Branco.»
No fundo, o seu trabalho é uma missão: «Foram precisos mais de 2500 anos de desenvolvimento do nosso alfabeto para conseguirmos ter algo que realmente apela aos nossos sentidos e que tantas vezes negligenciamos. Portugal já não tinha um calígrafo há mais de 100 anos que honrasse todas as técnicas e preceitos da escrita histórica. Eu trabalho todos os dias para honrar essa história e deixar a minha marca no nosso país. Existem algumas coisas que gostava de fazer mais, ou com mais frequência, como certificados de casamento, os votos dos noivos, pedidos de casamento, árvores genealógicas… pode-se fazer tanta coisa com esta arte que era capaz de passar o dia a enunciar possibilidades. No fundo as que mencionei agora são aquelas que dão mais gozo produzir e que têm um impacto maior nas pessoas. Não precisam ser peças muito complexas, como o meu certificado de casamento, mas uma coisa simples fica lindíssimo e perdura uma vida inteira.»
Podem contactar o Telmo Nunes através do número 910 329 893 ou através do e-mail.E acompanhem-no também no Facebook e no Instagram, onde vão sendo publicadas as pequenas maravilhas que ele vai produzindo.
Sobram dúvidas? Falem connosco, têm a caixa dos comentários inteiramente à vossa disposição. E não deixem de acompanhar todos os artigos de wise words que vamos publicando, sempre à segunda-feira.
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