À conversa com: Jardin d’ Époque – flores para casamento
Hoje converso com a Ema Ramos, da Jardin D’ Époque – flores para casamento.
A primeira vez que vi o seu trabalho, fiquei curiosa: é desarrumado, esquisito, tem qualquer coisa de bicho – e foi mesmo isso que lhe disse. Ao segundo olhar, percebe-se a intenção, o caminho, a conversa, e isso é muito especial. Porque é novo, porque é inesperado, porque é original e porque é bonito. Exige de nós uma atenção redobrada, uma pausa e foco para entrarmos nesse belíssimo diálogo em que somos recompensados.
Com esta conversa, descobri que temos muito em comum: o rigor, a curiosidade variada e um certo desassombramento em relação ao nosso trabalho. Gostei muito, mesmo!
Fiquem com o trabalho da Jardin D’ Époque e, sobretudo, com as suas palavras. Façam uma pausa e deixem-se cativar!
A melhor parte de trabalhar com flores e plantas é a energia que elas me dão. Claro que há momentos de tal forma intensos que a última coisa que quero fazer é levar flores para casa! Não sinto aquele cliché do “gosto tanto do que faço que não sinto que seja trabalho”. Eu gosto mesmo muito do que faço mas o sentido de responsabilidade que tenho para comigo e para com os meus clientes não me permite sentir este projecto como uma ocupação de Domingo à tarde. E é isso que torna o Jardin d’ Époque um desafio permanente.
Como é que nasce a Jardin d’ Époque?
A Jardin d’ Époque nasce no momento em que tomo a decisão de regressar a Portugal. Depois de ter vivido alguns anos em França, comecei a sentir a necessidade de me dedicar a um projecto totalmente meu, onde o infinito fosse o limite e onde a criatividade fosse a matéria prima primordial.
Como defines a assinatura da Jardin d’ Époque?
Gosto de definir o Jardin d’ Époque como um projecto descomprometido com as regras sedimentadas no mundo da arte floral e extremamente focado nas particularidades daqueles que me procuram e que confiam no meu trabalho. Há uma frase dos fundadores do FLO Atelier Botânico (Antonio Jotta e Carol Nóbrega), uma das minhas referência no mundo das flores, que trago sempre presente e que me ajuda a manter o rumo: “É essencial não se limitar a regras, nem levar tão a sério o que já foi escrito sobre como montar um arranjo. É importante trabalhar com ingredientes frescos, de boa qualidade, mas também com itens menos convencionais. Depois, use sua bagagem estética e privilegie o que combina com você, com seu estilo de vida.”
Esse estilo faz parte do ADN da marca ou é um conceito que escolheste para explorar e trabalhar este ano? Porquê?
Mais do que o ADN da marca, creio que este estilo é o meu próprio ADN. Desconstruir linguagens e processos de trabalho sempre foi transversal a todas as áreas profissionais em que estive envolvida. Do ballet clássico à produção cultural, do design à arquitectura… Conhecer a história, o que já existe, o que é produzido… E permitires-te experimentar e dessa forma evoluíres e definires o teu percurso e a tua identidade.
As tendências da estação… São um assunto de trabalho ou apenas fait divers?
Inevitavelmente as tendências estão quase sempre presentes. O Pinterest e o Instagram estão à distância de um clique para toda a gente e é muito comum receber e-mails com pedidos de orçamento acompanhados de “imagens tendência”. O grande desafio é desenvolveres um projecto a partir das premissas que são as expectativas daqueles que te procuram, em função do teu método de trabalho e das tuas convicções.
E as estações do ano, o ritmo de produção de cada época, são influências, contingências ou indiferenças nestes tempos globais?
O nome Jardin d’ Époque não foi escolhido de ânimo leve. Quis que o nome da marca fosse uma alusão directa à forma como gosto de trabalhar. E por isso, o ritmo e as características de cada estação do ano são, sem dúvida, a principal influência no meu trabalho.
Ter o controlo das decisões é importante? Tens uma perspectiva perfeccionista e específica sobre o resultado e a forma como queres que o teu trabalho seja mostrado e vivido ou é o prazer de discutir ideias, de criar e acompanhar o processo, que te interessa mais na relação com cada projecto, cada cliente?
Sou extremamente perfeccionista e picuinhas. E é por isso mesmo que discutir ideias e desenvolver um processo de trabalho é de extrema importância para mim. Nos tempos de faculdade, quando estudava arquitectura, na disciplina de Projecto tínhamos assiduamente as chamadas “críticas comparadas” onde discutíamos os exercícios que estávamos a desenvolver. Eram momentos de exposição e discussão que nos faziam repensar o que estávamos a produzir e assimilar novas possibilidades que surgiam na partilha e na crítica. Tento trazer esta dinâmica, hoje, para o Jardin d’ Époque, esteja com um cliente ou com um outro profissional. A partilha permite-nos chegar muito mais longe.
Existem fórmulas vencedoras que aplicas ou cada projecto de decoração floral é pensado totalmente de raiz?
Não creio que aplique uma fórmula aos projectos. Desenvolvo-os, sim, de acordo com o meu método de trabalho e esse método evolui de acordo com as especificidades de cada desafio, criando propostas totalmente individualizadas e únicas.
Onde buscas inspiração para cada nova temporada de trabalho?
Ai… É muito difícil responder a esta pergunta! Sempre tive imensa dificuldade em focar-me apenas numa área porque tenho imensa curiosidade por uma série de temas, muitos deles, completamente díspares. E a inspiração tanto pode vir de uma peça gráfica ou arquitectónica da Bauhaus, como de um incrível espaço interior contemporâneo branquinho, com apontamentos de mármore de Estremoz e madeira clara de pinho… No fundo, ela pode espreitar de um qualquer pormenor que se cruze comigo nas tarefas diárias!
E nos momentos de fadiga criativa, como refrescas a mente e o olhar?
Esta é mais fácil! Pego na Margarida e na Bolota e vamos até à Praia da Luz… Eu tomo um café e elas fazem buracos na areia! É incrível o privilégio que temos na nossa localização geográfica. A proximidade com o mar é um bálsamo para os momentos mais intensos e o facto de ter vivido durante algum tempo longe dele, faz-me dar-lhe ainda mais valor.
Como é o teu processo de trabalho, como crias uma ligação com os teus clientes?
Gosto muito de conversar e, mesmo numa fase inicial, tento estar presencialmente com as pessoas que me contactam. Nem sempre são possíveis as visitas ao estúdio e por isso, muitas vezes, os contactos são feitos através de e-mail ou skype. Mesmo com as “imagens tendência” que referimos há pouco, é muito importante para mim perceber as expectativas, as estórias e os sonhos de cada um. E a partir daí, desenhar um plano. Começo pela definição de uma paleta de cores, selecção de espécies e construção das estruturas das peças florais no chamado mood board. E numa fase posterior, desenvolvo todo o processo através do desenho, fotografias e maquetas. Quando trabalhamos com elementos vegetais há coisas muito difíceis de definir… Não conseguimos adivinhar a dimensão exacta de determinada espécie… Nada nos garante que não existirá uma praga que colocará em causa a maturação “daquela” flor… Mas acredito que desenvolver um projecto de design floral à semelhança de um projecto de design de produto ou de arquitectura permite-me deixar portas abertas para soluções de eventuais problemas. E, acima de tudo, permite que os meus clientes percebam toda a minha dedicação e entrega.
Qual é a melhor parte de trabalhar com flores e plantas, em decoração? E o mais desafiante e difícil?
A melhor parte de trabalhar com flores e plantas é a energia que elas me dão. Claro que há momentos de tal forma intensos que a última coisa que quero fazer é levar flores para casa! Não sinto aquele cliché do “gosto tanto do que faço que não sinto que seja trabalho”. Eu gosto mesmo muito do que faço mas o sentido de responsabilidade que tenho para comigo e para com os meus clientes não me permite sentir este projecto como uma ocupação de Domingo à tarde. E é isso que torna o Jardin d’ Époque um desafio permanente.
Difícil, difícil… É ter de limpar o estúdio depois de dias intensos de trabalho em que todas as tesouras desapareceram e, afinal, estavam camufladas no meio dos desperdícios de folhas e pétalas!
Qual foi o casamento em que mais gostaste de trabalhar? Porquê?
O casamento que mais gostei de fazer foi precisamente o primeiro em que a primeira frase do e-mail de contacto dizia: “descobrimos o teu trabalho através do Simplesmente Branco”. Tinha terminado de empacotar as minhas coisas em França, a transportadora viria no dia seguinte e restava apenas o computador em cima de um pequeno aparador. O e-mail era escrito em francês! E de repente, comecei o projecto de um casamento na deliciosa Comporta!
Todo o processo foi maravilhoso, pelos lugares e pelas espécies que a Justine e o Paulo elegeram. E o mais incrível foi o privilégio de desenvolver o projecto de design floral para um espaço como o Sublime Comporta, onde a articulação com a arquitectura e com as peças de mobiliário contemporâneos me deixaram como peixe num oceano!
O facto do casamento ter sido bem longe do Porto também me permitiu perceber que a ambição que tenho de executar projectos em todo o país e mesmo fora dele é possível e exequível, se meticulosamente planeado e com os maravilhosos e incansáveis fornecedores de flores de corte com quem trabalho.
Escolhe uma imagem favorita do teu portefolio e conta-nos porquê.
Esta imagem é uma das minhas favoritas por várias razões. Foi o bouquet que construí para o primeiro editorial para o qual me convidaram a participar. A primeira vez que senti e vivi o trabalho de equipa entre vários fornecedores de serviços do mundo dos casamentos e a incrível confiança e liberdade que depositaram no meu trabalho. Liberdade que me permitiu construir uma peça “descabelada”, mesmo como eu gosto, utilizando flores de compra e amoras silvestres que colhi numa tarde de Agosto e às quais retirei todos os espinhos, bagas de campos abandonados, dálias oriundas de bolbos que já estiveram no jardim da minha avó e que a minha mãe replantou, hortênsias do jardim de casa dos meus pais… É uma imagem que me traz memórias e estórias.
Os contactos detalhados da Jardin D’ Époque estão na sua ficha de fornecedor. Espreitem a galeria, vejam as imagens bonitas e contactem directamente a Ema Ramos através do formulário: é só preencher com os vossos dados e mensagem, e na volta do correio, terão uma resposta simpática.
Vejam aqui as últimas publicações da Jardin D’Époque!
Acompanhem estas nossas conversas longas com fornecedores seleccionados Simplesmente Branco, sempre à quarta-feira!
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